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#helsínquia #dia2

Atualizado: 25 de mai. de 2023

O dia começaria bem cedo, pois, tal como referi no post anterior, os professores iriam estar em greve toda a semana e era necessário fazer as visitas às escolas no primeiro dia.

Eis o relato do dia, nas vozes das nossas participantes Patricia Nogueira e Fernanda Castro:


Fizemos o percurso a pé até ao ponto de encontro, o Park Kluuvi., para conhecermos todo o grupo. Já nos tínhamos apercebido que tínhamos mais portugueses no grupo, e constatámos que também duas colegas de Vilamoura e dois colegas de Gaia faziam parte do curso.



Depois de uma curta viagem de autocarro, chegamos à Escola Kaitan Koulu (em Espoo), uma "Comprehensive school", com 303 alunos (entre os 13 e os 17 anos), cuja matrícula não envolve qualquer tipo de seleção; 37 professores; 3 assistentes operacionais; 4 técnicos especializados, a tempo parcial.


Fomos recebidos pela diretora-Principal, Ritva Mickelsson, acompanhada por um dos seus animais, um cão, uma mascote psicopedagógica.


Depois de ouvirmos uma pequena palestra sobre o funcionamento do sistema de ensino finlandês, e daquela escola em particular, iniciámos a visita às salas de aula onde decorriam aulas, onde pudemos observar a forma como professores e alunos se comportavam em sala de aula.

Encontramos, além de salas de aula especializadas, espaços de aprendizagem que envolviam, dos corredores à cantina, respostas adequadas ao desenvolvimento da aprendizagem. A escola propõe, como metas a desenvolver, o crescimento do aluno, seguindo-se o seu desenvolvimento e só depois a aprendizagem, já que concebe que, para aprender, cada um tem que se sentir bem e seguro. Cada elemento da comunidade tem presente que aprender é mais importante do que ensinar. Todos são seres aprendentes, pelo que as ideias nunca são derrotadas, apenas expandidas num enquadramento mais adequado ao contexto envolvido. O aluno trabalha mediante a sua competência; autonomia; relação; auto-determinação e motivação, assim, cada um tem um programa individual tutoriado pelos docentes. Os alunos que não possuem o Finlandês como língua materna, quando chegam, têm a oportunidade de terem um ano de iniciação/adaptação ao ensino finlandês (cerca de 24% dos alunos são bilíngues).

Consideramos curioso que no regulamento interno não há a palavra "não"... Sendo promovida a expressão, como base da partilha de qualquer discussão: "que boa ideia".

A interação com animais assistentes de aprendizagem, constitui a singularidade da promoção de bem estar, nos mais diferentes contextos, especialmente como atenuador de conflitos. A diretora faz-se acompanhar do seu cão de estimação, e todos a conhecem pelo nome próprio, tal como os outros professores, e há trabalho para todos nas cavalariças.

Aos professores é evitado trabalho extraordinário, criando o sentido de comunidade educativa, já que candidatam-se e é a diretora que cria o seu grupo de trabalho.


Como pontos fortes, apontamos as salas de aula muito bem organizadas, com material escolar (material de papelaria e cadernos de atividades), fotocopiadoras, impressoras, retroprojetores de 3ª geração, videoprojetores, mesas e cadeiras ergonómicas do professor, salas específicas para cada disciplina. Destaque para a sala de Educação Musical, extremamente bem apetrechada, com grande diversidade de instrumentos expostos, para uso na sala. Realce também para a sala de aula de Artes, cujos trabalhos dos alunos se encontravam expostos, não só na sala como por toda a escola. O espaço de refeitório/cantina encontrava-se completamemte insonorizado, com mobiliário muito adequado, moderno e funcional. O regime de funcionamento é em self-service, bem ordenado, e com um menu extenso, para todos os gostos.



Por fim, destacamos ainda o silêncio nas áreas comuns, como os corredores e áreas de lazer, e os elevados padrões de higiene em todos os espaços.


Da nossa observação das aulas pudemos também concluir que nem tudo é o que parece e que o melhor sistema de ensino do mundo também tem as suas lacunas, ou aquilo que nos pareceu como francamente menos positivo e merecedor de uma reflexão profunda:

Notamos um claro desinteresse e desmotivação de grupos de alunos por turma. Muitos dos alunos por turma estavam a consultar as redes sociais nos seus telemóveis, com a anuência dos professores, outros quase dormiam, outros levantavam-se desinteressadamente ou conversavam entre si.

Apesar de defenderem um ensino por projetos e fenómenos, quase todas as aulas que tivemos oportunidade de observar, efetuavam-se num registo expositivo por parte do professor, com o professor posicionado na frente de carteiras alinhadas ou em pequenos grupos, mas a aula sempre centralizada no professor. Confessamos que ficamos um pouco perplexas com a incoerência. Ficamos a saber que responsabilizam o aluno pelo seu percurso e que se o aluno não está motivado para estar na aula, o professor deverá dar-lhe tempo para encontrar a sua motivação e encorajá-lo a encontrá-la, ainda que fora da sala de aula.


Ainda como ponto menos positivo, constatámos que a biblioteca escolar era de reduzidas dimensões e reduzida oferta, embora compreendamos que os níveis de literacia da população são mais elevados do que os nossos. Contudo, os professores, na sua generalidade, queixaram-se de que os seus alunos leem pouco. A médio prazo pensamos que poderão ter de voltar a preocupar-se com os níveis de literacia e a revitalização das bibliotecas escolares. A nossa bibliotecária Silvana Neves ficou muito decepcionada com esta realidade.


Por fim, apesar de nos apresentarem as mascotes como auxiliares da prática educativa - cães e cavalos, não conseguimos ver os animais em ação e a interagirem com os alunos. Ficamos com muita pena...


Apenas mais uma ressalva, um pouco cultural, talvez, mas os alunos tinham alguma dificuldade em interagirem connosco em inglês. Apesar de estarem responsáveis por mostrarem a escola e responderem a questões, não proferiam muito para além de monossílabos.



Após o óptimo almoço na cantina da escola, regressamos ao Park Kluuvi, onde assistimos ao workshop sobre o sistema educativo finlandês.

Algumas curiosidades: a Finlândia tem o maior uso de dados de banda larga móvel na União Europeia, são os maiores consumidores de café do mundo (quem diria?) e são o país mais feliz do mundo! Esta última afirmação causou-nos alguma perplexidade, dado que a maioria dos finlandeses não parece particularmente feliz, ou melhor, o cidadão comum não exibe sinais exteriores do que habitualmente associamos a felicidade. Contudo, eles fizeram questão de nos explicar: é uma felicidade que deriva da segurança que têm nas instituições e no bem estar comum, já que os finlandeses não pagam diretamente para terem a sua educação, saúde, electricidade, etc. Se, porventura, uma família ficar sem condições de pagamento da sua casa, em caso de desemprego, por exemplo, o estado substitui-a. Assim, já compreendemos: pagam impostos muito elevados mas vêem o resultado disso.


Eis um resumo das razões da sua felicidade:


O sistema de ensino finlandês é gerido pelos municípios, que são responsáveis pelo financiamento, contratação e implementação de políticas educativas, com bases nas diretrizes emanadas do governo central. Para além disso, são realizadas parcerias com as autoridades nacionais, autoridades locais, sindicatos de professores, parceiros sociais, pais, instituições de investigação e mecenato.


Os princípios básicos da educação finlandesa assentam numa educação grátis para todos, na autonomia das escolas, na flexibilidade, na igualdade e apoio, nos professores altamente qualificados, na inexistência de exames nacionais ou rankings nacionais e na responsabilidade e confiança no sistema.

Em termos práticos:

- os alunos têm entre 3 a 5 tempos de 45 minutos, com intervalos para permitir a reflexão;

- poucos testes, pois estão incluídos nas atividades do dia a dia do professor, significando mais tempo para aprender e menos para testar o que não se sabe;

- menos tópicos no programa, o que significa maior profundidade na aprendizagem;

- menos trabalho de casa ou nenhum, para possibilitar mais tempo para explorar;

- menos alunos na sala de aula, para possibilitar uma atenção mais individualizada;

- um ensino vocacional bem estruturado e em cooperação com a sociedade civil e empresas;

- e, por fim, acordos que se estabelecem entre as famílias/alunos e a escola, no sentido de responsabilização e cumprimento das regras e objetivos.


Contudo, a diferença mais gritante é a forma como o professor é visto na Finlândia: um profissional muito respeitado, com total autonomia nas suas aulas, ao nível dos métodos de ensino, materiais que usa, e avaliação do aluno. O professor e as aulas nunca são alvo de inspeção! O salário, no entanto, não é a razão pela qual os os finlandeses querem ser professores, pois o salário médio do professor finlandês ronda os 3.900€ (um médico ganha cerca de 6.200, um advogado 4.500 e um polícia 3.600€).


Regressamos cedo ao nosso hotel, bem a tempo de experimentarmos uma das razões pelas quais os finlandeses são tão felizes: uma sauna oferecida pelo hotel! Esturricadas mas felizes!




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