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#Finlandia&Estonia conclusões

Atualizado: 25 de mai. de 2023

Regressamos sãs e salvas!

Primeiro, apanhamos, de novo, o ferry-boat para Helsínquia.


Depois, o avião para Genebra. Aí encontramos muitos portugueses e alguns celebraram a vitória do F.C.P. no campeonato nacional. Regressamos ao Porto, para as nossas famílias, com a sensação de dever cumprido!


Refletimos em conjunto e eis algumas dessas reflexões, acerca da Finlândia e Estónia, e dos seus sistemas educativos.


A primeira evidência é a de que não há um sistema educativo perfeito. A ideia que se tem de que o sistema educativo finlandês é o eldorado da educação é um mito: também os sistemas finladês e estoniano têm as suas deficiências.

Outra evidência  a de que as nossas culturas são abismalmente diferentes. Uma participante no nosso curso, uma diretora de uma escola austríaca, de Viena, confessou-nos que estava muito desiludida, pois não poderia implementar metade do que tinha visto e aprendido, tal era a diferença entre os países. Nós ficamos perplexas: se ela se queixava, o que diríamos nós...


Aqui vão mais conclusões das nossas observações e contactos com a sociedade em geral, e as escolas, funcionários, professores e alunos finlandeses e estonianos, em particular:


1. Do tradicional vs. modernidade:


- não vimos a mudança que esperávamos: as salas de aula, na sua maioria, estão dispostas com o professor no lugar central, como detentor do conhecimento, numa abordagem muito tradicional, de carteiras em fila;

- os manuais, na sua maioria, não recorrem a um manual digital, com plataformas avançadas como temos em Portugal (LeYa e Porto Editora);

- as condições físicas das salas são verdadeiramente excecionais - aquecimento, design ergonómico, mas não vimos que tirassem partido disso com abordagens mais arrojadas.



2. Das aulas, professores, alunos e integração:


- os professores parecem dar as suas aulas independentemente dos alunos. Dá a sensação que não dão as aulas PARA os alunos: "Queres aprender, aprende. Não queres, não aprendas, encontra-te", parece ser o mote;

- parecem ter os recursos todos de diagnóstico e apoio das necessidades educativas especiais. Contudo, os alunos NEE parecem ter um currículo à parte, com espaços à parte, com um mundo à parte. Não vimos, em todas as escolas a que fomos, um único aluno do Ensino Especial integrado numa turma.



3. Do comportamento coletivo e indisciplina:


- vimos a eficácia das instituições mas não vimos a eficácia do afeto. Aliás, havia o hábito, entre os finlandeses, de se auto-classificarem como "pouco finlandeses" quando tinham comportamentos de mais afeto ou empatia pelo outro. Assim, facilmente, para nós, a conceção de "encontra o teu caminho por ti próprio" parece-nos pouco empenhada por parte do professor;

- não há indisciplina, é certo, mas também a linha de aceitação de determinados comportamentos é, francamente, mais ampla. Conceitos de indisciplina completamente diferentes, para formas de estar na vida completamente diferentes. Devemos nós aceitar determinados comportamentos como naturais e normais? Deverão os finlandeses fazer cumprir regras que para nós são óbvias? Deixamos a questão em aberto...



4. Da valorização da carreira docente:


- os professores parecem ser mais felizes e valorizados do que os professores portugueses. A profissão docente é, aliás, muito valorizada, embora não seja altamente remunerada. Contudo, o facto de serem respeitados dá-lhes, certamente, outro contexto de ensino/aprendizagem, no qual a sua posição de predominância (para evitar o termo "autoridade") lhes dá segurança e comodidade. Penso que todos os professores portugueses sonham com turmas disciplinadas e respeitadoras!



5. Da vida pessoal e trabalho:


- há um grande balanço entre a vida pessoal e o trabalho. Os horários evidenciam isso mesmo: na Finlândia e na Estónia os alunos têm aulas de manhã, acabando por volta das 13h. Os alunos com apoios e aulas suplementares ficam de tarde, os outros regressam a casa e têm as tardes ocupadas com atividades de lazer ou atividades desportivas. Os pais acompanham os filhos em muitas atividades e eles próprios também têm atividades/desportos. É para aí que caminhamos, certamente, mas ainda nos falta um longo caminho a percorrer.



6. Da organização e financiamento das escolas:


- as escolas contam com um sistema de financiamento vindo dos municípios. As necessidades são diagnosticadas e, no início do ano letivo, as direções das escolas têm um orçamento e fazem uma gestão anual com um orçamento sempre "acima" daquilo que precisam, para acudir imprevistos. As escolas não têm de mendigar, reclamar por dinheiro e isso deve dar, certamente, uma perspetiva de futuro mais abrangente, com um planeamento mais assertivo e eficaz. Não há dificuldades financeiras numa escola, isso é certo!

- as escolas têm um sistema de contratação de professores muito eficaz, dependente diretamente do município. Nunca há falta de professores, muito embora a Finlândia se vá confrontar, a curto prazo, também com a falta de professores;

- as comunidades envolvem-se muito na vida das escolas, em especial ao nível de financiamento. Financiam equipamentos, bolsas, enfim, têm uma participação muito ativa na vida das escolas;

- os pais e as comunidades acreditam na seriedade das instituições em geral e das escolas em particular, confiando nas chefias e liderança e não colocando em causa a sua eficácia. Os pais não reclamam com a direção da escola, pois partem do pressuposto que, se colocam lá os filhos, acreditam no projeto educativo e confiam nele. Seria muito bom que em Portugal as famílias confiassem assim nos projetos educativos das escolas e não os pusessem sistematicamente em causa.



7. Da abordagem pedagógica das escolas:


- a maioria das escolas assenta, em teoria, em abordagens pedagógicas muito inovadoras. Contudo, como já referimos, constatámos sempre uma abordagem mais tradicional, com disposições de carteiras em fila, e uma aula centrada no professor. Também soubemos que os finlandeses estão muito preocupados com os resultados dos exames PISA, que diagnosticaram um decréscimo nos rankings. Aquilo que vimos será resultado de uma reformulação do seu sistema de ensino?

- algumas das escolas que visitámos assentam numa filosofa geral de satisfação e felicidade na escola. Essa satisfação advém, segundo alguns diretores, dos métodos inovadores, da comunidade, da atmosfera aconchegante, dos adultos e gestão de confiança, da segurança que daí resulta e do uso de tecnologia. Contudo, questionámos muitos alunos acerca do que pensavam da escola, se gostavam da escola, e, surpreendentemente, a maioria dizia que não gostava da escola e de andar na escola.



8. Da felicidade dos alunos, professores e cidadãos em geral:


- o povo finlandês diz-se feliz, muito embora não o aparente. Conseguimos perceber, no entanto, quando nos dizem que a sua felicidade advém da sensação de segurança, e da segurança real que têm nas instituições e no seu governo. Não pagam diretamente a sua educação, saúde e demais áreas da vida social, pois pagam uma fatia muito elevada do que ganham em impostos. E são felizes por o fazerem, porque veem o resultado do seu sacrifício individual no coletivo;

- é inevitável que alguns estereótipos se façam e nós insistamos em os perpetuar: o povo finlandês é, na sua generalidade, respeitador do outro, sem ser invasivo. Muitas vezes, achamos que eram frios no tratamento e achamos estranho que idosos se sentissem imensamente agradecidos se esperávamos por eles num elevador. Refletimos que essa não seria, então, uma prática comum. Percebemos as diferenças culturais, de perplexidade face ao elogio, da relutância face ao toque, por exemplo. Percebemos as diferenças, compreendemos e aceitámos. Confessamos, no entanto, que sentimos alguma incredulidade face à conclusão de que os finlandeses são o povo mais feliz do mundo!



9. Do caminho de cada um:


- nas escolas, como na sociedade em geral, há a perceção de que cada um tem o seu caminho a percorrer, ao seu ritmo e que esse deve ser respeitado. Os professores explicaram-nos o percurso: o aluno deve estar na aula se esta lhe interessar. Se não interessar, o aluno deverá encontrar o seu caminho, encontrar as razões que o façam gostar e motivar, e, eventualmente, mudar se não encontrar a motivação.  À luz da nossa cultura, tal posição pode facilmente ser vista como um desinvestimento do professor no aluno;

- quando observámos aulas, frequentemente, vimos alunos muito desinteressados: dormiam, liam, vasculhavam as redes sociais, saíam da sala, sem pedirem permissão, voltavam a entrar, ou não. Interrogámo-nos se isso acontecesse nas nossas aulas, mais de metade dos ditos "incidentes" disciplinares desapareceria. Quem está certo, então, eles ou nós?

- o aluno finlandês é responsável pela sua aprendizagem, e se quer aprender ou não. Em última instância, o aluno é convidado a sair da escola se insistentemente "não encontrar o seu caminho". No entanto, o papel do professor parece-nos muito reduzido neste percurso e a autonomia do aluno em demasia. Estará o aluno preparado para tanta autonomia? A nós, pela observação e interação que estabelecemos com os alunos, pareceu-nos que não.



10. Das escolhas:


- o aluno filho de pais médicos, por exemplo, é encorajado a seguir o seu percurso de felicidade, quer isso signifique seguir uma carreira na construção civil quer na carpintaria. Todas as profissões são dignas. Não há profissões de primeira ou de segunda categoria, ou assim nos disseram. Não pudemos constatar isto, por contacto direto com famílias, mas queremos acreditar que assim é, tal é a cultura da felicidade que se preconiza para a sociedade em geral.


11. De "Ver o melhor de ti"!


Sem dúvida, o que de melhor trouxemos para o nosso sistema educativo e escola, e que se adapta à nossa cultura e forma de estar na vida, foi uma postura de vida e pedagogia que assenta em ver o melhor do aluno, o melhor do ser humano, o melhor em cada um de nós e desenvolver essa postura de valorização do outro no nosso dia-a-dia. Essa "filosofia de vida" encheu-nos de entusiasmo e vamos tentar replica-la nos nossos contextos de vida e de Ensino/aprendizagem! See the Good!


E, pronto, esperamos ter dado uma visão ampla não só do que fizemos mas do que aprendemos e de como podemos trazer isso para o nosso agrupamento. Tentámos dar-vos uma visão do sistema de ensino finlandês e estoniano, imparcial e fundamentada, e com isso contribuir para uma mudança de paradigma no nosso agrupamento e em todos os que nos leem.


Portanto: boas mudanças é o que desejamos!


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